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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Lotando o inferno

Já a algum tempo não visito o Parque Estadual do Alto do Ribeira (PETAR), na região mais economicamente pobre e naturalmente rica do estado de São Paulo, distribuído entre as cidades de Iporanga e Apiaí, com uma beirada em Eldorado.
A região é dotada de grande porção de mata atlântica preservada, o que por si já é um atrativo. Como benção, possui ainda embasbacante profusão de cavernas, dos mais variados tipos e proporções, com formações de deixar o sujeito prostado por horas, em meio à mais absoluta escuridão.
A primeira vez em que visitei a região, há 11 anos, dias antes da primeira grande enchente Ribeira dos últimos 20 anos, tive a oportunidade de ficar coisa de uma semana por lá, e conhecer bastante coisa. À época não havia guias que não os funcionários do parque, que nos acompanhavam somente na visita à maravilhosa caverna de Santana, ficando a visita às demais por nossa conta e risco.
A população da cidade de Eldorado vivia basicamente do cultivo da banana e de alguma pecuária. A de Iporanga, sabe Deus do que vivia. Eldorado tinha dois hotéis, e Iporanga uma ou duas pousadas, próximas ao núcleo Santana do Petar.
Voltei seguidas vezes ao local nos anos seguintes, e pude ver a gradual transformação da região. Surgiram mais e mais pousadas em Iporanga, e hoje provavelmente já passam das 50. A população ganhou duas frentes de trabalho: as próprias pousadas e restaurantes, e o trabalho como guia na visita às muitas cavernas.
O trabalho como guia começou de modo espontâneo e um tanto atabalhoado, mas logo tomou organização, com preços ajustados entre os vários guias, roteiros e horários estabelecidos e o treinamento dos guias pelos monitores funcionários do parque. Em pouco tempo estabeleceu-se norma que impedia os turistas de acessar qualquer caverna sem a companhia de um guia, o que aumentou a segurança tanto dos turistas quanto das próprias cavernas.
Criou-se um círculo virtuoso em torno dos buracos, e as gentes que cortavam palmito para sobreviver passaram a preservar as matas e cavernas da região e deles tirarem o de comer. Iporanga parou de diminuir e voltou a crescer.
E tudo vai bem, ou ia, pelo menos, até semana passada. Burocratas do IBAMA fecharam, de uma canetada, todas as cavernas da região para visitação. Alegam a falta de um Plano de Manejo, por parte do governo do Estado de São Paulo. O governo do Estado por sua vez reconhece a falta deste documento, mas argumenta que a decisão prejudica sobremaneira a já incipiente economia da região, não bastasse ser um tiro no pé.
É incrível a falta de inteligência do pessoal do IBAMA. Mal fecharam as cavernas e o pessoal que trabalhava de guia já foi para casa, amolar os facões para o corte de palmito. Com o corte, atividade criminosa, mas o que resta à sobrevivência da população, volta a degradação.
Até tento pensar que essa turma do IBAMA está com a melhor das intenções. Só que delas, o inferno está até a tampa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheci Apiaí e algumas cavernas da região uns 10 anos atrás também... Falta bom senso nesse mundo e sobra gente querendo dar uma de senhor da moral e ética...

Mas na verdade tô postando o comentário só pra tu ver que tem gente lendo o blog heheheh

[]s
Gustavo.