Tenho um amigo que é uma das melhores pessoas que conheço, mas de apetite feral e ingenuidade bestial. Vez por outra acha algo no que acreditar, de bruchas a obra pública feita com lisura, e vem querer nos convencer que isso existe. Para sorte dele, ultimamente têm sido só algo para se divertir, um pouco mais de cultura inútil. Mas já gastou muito dinheiro com lubrificantes milagrosos, módulos de ignição que retiram energia do nada e outras quinquilharias mais.
Pega as informações sabe-se lá de quais sítios da internet, dois ou três parágrafos de texto, e toma-as como demonstrações científicas. No tempo em que eu tomava pau lá no IFUSP, o pessoal dizia que pesquisadores tinham dois ranks, o das citações, em artigos e revistas sérios, científicos ou de divulgação, e as anti-citações, em algumas revistas e sítios de "divulgação científica", como os que esse meu amigo frequenta.
Pois que lá veio ele novamente com a "prova" de que o moto-perpétuo existe. Já perdi a conta das vezes em que ele caiu nesse conto. Mas agora a brincadeira começa a tomar rumos perigosos. Já nos chama de incrédulos. Daí a nos chamar de infiéis e querer nos capar, é um pulo.
Diz que um tal de Thane Heins (google nele para saber mais) inventou uma trapizonga eletromagnética que se move "ad-infinitum", dado um tranco inicial. O autor do milagre jura de pés juntos que não é moto-contínuo. Bom, ele pode chamar do que quiser, mas um troço que se move até o fim dos tempos sem precisar de energia externa só pode ser isso... Interessante notar também que nem ele parece saber muito bem do que se trata sua máquina, visto que não há uma sentencinha matemática sequer em todo o "trabalho" dele.
O que meu amigo (e boa parte da humanidade, infelizmente) ignora, é que uma máquina, seja qual for, ao se mover sofre a ação de forças de atrito, por menores que sejam. Estas forças geram calor, retirando energia do sistema, a uma determinada taxa. Ora, se energia é retirada, energia deve ser reposta ao sistema, de modo a perpetuar o movimento. Mas de onde, se o sistema é isolado? Logo, a geringonça de nosso amigo seria um poço interminável de energia, criando energia que seria dissipada pelo atrito. Senhores, se isto existe, a primeira lei da termodinâmica não existe.
Mas aí alguém pode dizer, espere! A máquina reaproveita de alguma forma a energia retirada pelo efeito do atrito, reintroduzindo-a no sistema. Não amigos, pelo amor de Deus, não! Vejam o enunciado da segunda lei da termodinâmica, segundo lorde Kelvin: "É impossível realizar um processo cujo único efeito seja remover calor de um reservatório térmico e produzir uma quantidade equivalente de trabalho." Ou seja, algo se perderá no processo. Se há perdas, e o sistema é isolado, acabou a conversa. Não entra energia a mais, só sai. Um dia o troço pára...
Existem pelo menos mais umas dez abordagens diferentes para se derrubar a conversa em 2 ou 3 parágrafos, mas a termodinâmica me parece ser a mais simples e definitiva, pois mata de uma paulada só todos os dispositivos do gênero.
Porque as pessoas teimam em acreditar nesse tipo de pataquada, é assunto para quando eu estiver dando uma de psicólogo social, num próximo post.
Falando nada de tudo e de todos. Durmam vocês com esse barulho...
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
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4 comentários:
Ingênuo fui eu, por ter ido ler achando que ia ter algo além do mais
óbvio... pior ainda é ler algo que desconsidera completamente que as
"leis" mudam e que tem um bocado de coisa que a gente ainda não
conhece por não saber onde procurar...
Blog é tudo igual mesmo........
não resta dúvidas;
- devemos proceder com a lobotomia no probre do Eurico.
Olha Gustavo d. Você tem razão. As "leis" mudam. Mas só essas assim entre aspas. As LEIS naturais existem. Ninguém as inventou não. Nós as descobrimos. Por isso elas não mudam. Mas se você acha mesmo que isso é possível pode começar com a gravidade. Onde você vai procurar eu não sei.
Gente é tudo igual mesmo...
Alemão, seguindo teu conselho comecei a "alterar" a lei da gravidade... não mudando o que o Newton descobriu, mas adicionando algumas coisas que ele não notou... tô pensando em chamar de algo tipo Teoria da Relação, Relacionavidade, ou algo parecido, que tu acha??? :)
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