Já a algum tempo não visito o Parque Estadual do Alto do Ribeira (PETAR), na região mais economicamente pobre e naturalmente rica do estado de São Paulo, distribuído entre as cidades de Iporanga e Apiaí, com uma beirada em Eldorado.
A região é dotada de grande porção de mata atlântica preservada, o que por si já é um atrativo. Como benção, possui ainda embasbacante profusão de cavernas, dos mais variados tipos e proporções, com formações de deixar o sujeito prostado por horas, em meio à mais absoluta escuridão.
A primeira vez em que visitei a região, há 11 anos, dias antes da primeira grande enchente Ribeira dos últimos 20 anos, tive a oportunidade de ficar coisa de uma semana por lá, e conhecer bastante coisa. À época não havia guias que não os funcionários do parque, que nos acompanhavam somente na visita à maravilhosa caverna de Santana, ficando a visita às demais por nossa conta e risco.
A população da cidade de Eldorado vivia basicamente do cultivo da banana e de alguma pecuária. A de Iporanga, sabe Deus do que vivia. Eldorado tinha dois hotéis, e Iporanga uma ou duas pousadas, próximas ao núcleo Santana do Petar.
Voltei seguidas vezes ao local nos anos seguintes, e pude ver a gradual transformação da região. Surgiram mais e mais pousadas em Iporanga, e hoje provavelmente já passam das 50. A população ganhou duas frentes de trabalho: as próprias pousadas e restaurantes, e o trabalho como guia na visita às muitas cavernas.
O trabalho como guia começou de modo espontâneo e um tanto atabalhoado, mas logo tomou organização, com preços ajustados entre os vários guias, roteiros e horários estabelecidos e o treinamento dos guias pelos monitores funcionários do parque. Em pouco tempo estabeleceu-se norma que impedia os turistas de acessar qualquer caverna sem a companhia de um guia, o que aumentou a segurança tanto dos turistas quanto das próprias cavernas.
Criou-se um círculo virtuoso em torno dos buracos, e as gentes que cortavam palmito para sobreviver passaram a preservar as matas e cavernas da região e deles tirarem o de comer. Iporanga parou de diminuir e voltou a crescer.
E tudo vai bem, ou ia, pelo menos, até semana passada. Burocratas do IBAMA fecharam, de uma canetada, todas as cavernas da região para visitação. Alegam a falta de um Plano de Manejo, por parte do governo do Estado de São Paulo. O governo do Estado por sua vez reconhece a falta deste documento, mas argumenta que a decisão prejudica sobremaneira a já incipiente economia da região, não bastasse ser um tiro no pé.
É incrível a falta de inteligência do pessoal do IBAMA. Mal fecharam as cavernas e o pessoal que trabalhava de guia já foi para casa, amolar os facões para o corte de palmito. Com o corte, atividade criminosa, mas o que resta à sobrevivência da população, volta a degradação.
Até tento pensar que essa turma do IBAMA está com a melhor das intenções. Só que delas, o inferno está até a tampa.
Pagando o pato
Falando nada de tudo e de todos. Durmam vocês com esse barulho...
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Um forte
Em Os Sertões, Euclides da Cunha define o sertanejo como, sobretudo, um forte. Pois vou falar de um forte, em uma família de fortes, rodeado de fortes.
Seu nome é Ricardo Oliveira da Silva, tem 19 anos e está na 7ª série do fundamental, velho primeiro grau. Ricardo sofre de amiotrofia espinhal, o que lhe causa fraqueza muscular e atrofia da medula, atrelando-o a uma cadeira de rodas. Mora em Várzea Alegre, sertão do Ceará e ontem conheceu o Rio de Janeiro, onde recebeu do Eleito seu segundo ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas, e é um dos 300 melhores na matéria em todo o país, em um universo de mais de 17 milhões.
Foi alfabetizado pela mãe, e é carregado à escola pelo pai por 1 km em um carrinho de mão, para fazer as provas. Estuda em casa, com livros que eram do irmão, ou emprestados pela escola e por professores que o auxiliam e com o professor particular Valberto, que o faz voluntariamente. Não tem internet. Seu irmão tem um bronze na mesma olimpíada. Sua família vive de uma bolsa de iniciação científica de R$100, outra do bolsa família de R$76 e come de uma rocinha que provavelmente mal dá para o consumo dos quatro.
Ontem, durante a justa homenagem no Municipal do Rio, foi devidamente destacado e citado pelo Eleito, em mais um de seus já costumeiros discursos.
É pena que hoje, provavelmente, tenha voltado para casa no mesmo velho carrinho de mão. Mas são fortes. Superaram e superarão.
P.S.: Afora os comentários deste que escreve, as informações são de reportagem de Italo Nogueira, publicada na Folha de São Paulo de hoje, caderno Cotidiano.
Seu nome é Ricardo Oliveira da Silva, tem 19 anos e está na 7ª série do fundamental, velho primeiro grau. Ricardo sofre de amiotrofia espinhal, o que lhe causa fraqueza muscular e atrofia da medula, atrelando-o a uma cadeira de rodas. Mora em Várzea Alegre, sertão do Ceará e ontem conheceu o Rio de Janeiro, onde recebeu do Eleito seu segundo ouro nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas, e é um dos 300 melhores na matéria em todo o país, em um universo de mais de 17 milhões.
Foi alfabetizado pela mãe, e é carregado à escola pelo pai por 1 km em um carrinho de mão, para fazer as provas. Estuda em casa, com livros que eram do irmão, ou emprestados pela escola e por professores que o auxiliam e com o professor particular Valberto, que o faz voluntariamente. Não tem internet. Seu irmão tem um bronze na mesma olimpíada. Sua família vive de uma bolsa de iniciação científica de R$100, outra do bolsa família de R$76 e come de uma rocinha que provavelmente mal dá para o consumo dos quatro.
Ontem, durante a justa homenagem no Municipal do Rio, foi devidamente destacado e citado pelo Eleito, em mais um de seus já costumeiros discursos.
É pena que hoje, provavelmente, tenha voltado para casa no mesmo velho carrinho de mão. Mas são fortes. Superaram e superarão.
P.S.: Afora os comentários deste que escreve, as informações são de reportagem de Italo Nogueira, publicada na Folha de São Paulo de hoje, caderno Cotidiano.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Sagrado e profano
Esses dias estava procurando algo para forrar o bucho de um pessoal por aqui, e acabei me lembrando de dois livros que, cada um a seu modo, abordam de maneira diferente o pecado da gula. Os livros são O Livro da Cozinha Clássica, Sílvio Lancellotti, L&PM, 1999 e Batuque na Cozinha, Alexandre Medeiros, Editoras Senac Rio e Casa da Palavra, 2004.
Confesso que não sou dos mais refinados nem à mesa, tampouco ao fogão. Tenho cá meus dotes, não vou mentir, mas sou a bem dizer um troglodita no que toca à sofisticação. Sofro de horrores a filé mignon, peixes finos e aves exóticas. Sou verdadeiramente tarado, como dizem los hermanos, por comidas dietéticas e saudáveis, como sarapatel, mão de vaca, vatapá, moqueca, matambre e, porque não dizer, um magrinho leitão à pururuca. Não sei apreciar um bom vinho, mas conheço excelentes cachaças por aí. Mas, não é para falar de meus hábitos alimentares que escrevo, mas sim dos dois títulos acima.
O livro de Lancelloti, como o título sugere, é um apanhado de receitas clássicas da culinária em geral européia. Mas não é um simples livro de receitas. O Gordo teve um bom trabalho, pesquisando as histórias destas receitas, que são apresentadas como introdução a cada uma delas. São receitas, ou alquimias, como ele diz, sofisticadas, coisa de gourmet. Usam ingredientes em alguns casos finos e raros, com pontos e doses precisas. Nada de mãos de coentro. Eu, como reles mortal, não as testei e dificilmente testarei, pelas razões já expostas. Não macularia sua sacra nobreza com minhas mãos sujas do mocotó que estava picando a pouco. De todo modo, é leitura interessante. Sei que os amantes da alta gastronomia me abominam por isso, mas, ninguém é perfeito.
Já o livro de Alexandre Medeiros é uma jabuticaba. Nele são contadas as histórias de vida de quatro "tias" da Portela. Em comum, as quatro têm a vida sofrida e vitoriosa, o amor ao samba, as casas repletas de gente cantando e sambando madrugada a dentro e um descomunal talento nas panelas. Não bastassem as deliciosas histórias, ao fim de cada uma delas o autor junta um apanhado com receitas da personagem em questão. Aí a leitura vira um martírio. Chega-se a sentir o cheiro dos quitutes. São receitas simples, com ingredientes profanos, em doses gigantescas, pois são os pratos que essas mulheres serviam em seus terreiros quando tinha pagode, sempre prum mundão de gente, com uma fome de anteontem. Sinto pena dos que não teriam coragem de comer uma gigantesca porção de uma daquelas delícias, devidamente acomodado em um tijolo, enquanto o samba come solto e a cerveja esquenta um pouquinho.
Se não tive competência aqui para evidenciar o contraste entre os dois mundos, o da alta gastronomia e o dos quintais do Rio, transcrevo aqui duas receitas, uma de cada livro, para que o leitor tire suas próprias conclusões:
Confesso que não sou dos mais refinados nem à mesa, tampouco ao fogão. Tenho cá meus dotes, não vou mentir, mas sou a bem dizer um troglodita no que toca à sofisticação. Sofro de horrores a filé mignon, peixes finos e aves exóticas. Sou verdadeiramente tarado, como dizem los hermanos, por comidas dietéticas e saudáveis, como sarapatel, mão de vaca, vatapá, moqueca, matambre e, porque não dizer, um magrinho leitão à pururuca. Não sei apreciar um bom vinho, mas conheço excelentes cachaças por aí. Mas, não é para falar de meus hábitos alimentares que escrevo, mas sim dos dois títulos acima.
O livro de Lancelloti, como o título sugere, é um apanhado de receitas clássicas da culinária em geral européia. Mas não é um simples livro de receitas. O Gordo teve um bom trabalho, pesquisando as histórias destas receitas, que são apresentadas como introdução a cada uma delas. São receitas, ou alquimias, como ele diz, sofisticadas, coisa de gourmet. Usam ingredientes em alguns casos finos e raros, com pontos e doses precisas. Nada de mãos de coentro. Eu, como reles mortal, não as testei e dificilmente testarei, pelas razões já expostas. Não macularia sua sacra nobreza com minhas mãos sujas do mocotó que estava picando a pouco. De todo modo, é leitura interessante. Sei que os amantes da alta gastronomia me abominam por isso, mas, ninguém é perfeito.
Já o livro de Alexandre Medeiros é uma jabuticaba. Nele são contadas as histórias de vida de quatro "tias" da Portela. Em comum, as quatro têm a vida sofrida e vitoriosa, o amor ao samba, as casas repletas de gente cantando e sambando madrugada a dentro e um descomunal talento nas panelas. Não bastassem as deliciosas histórias, ao fim de cada uma delas o autor junta um apanhado com receitas da personagem em questão. Aí a leitura vira um martírio. Chega-se a sentir o cheiro dos quitutes. São receitas simples, com ingredientes profanos, em doses gigantescas, pois são os pratos que essas mulheres serviam em seus terreiros quando tinha pagode, sempre prum mundão de gente, com uma fome de anteontem. Sinto pena dos que não teriam coragem de comer uma gigantesca porção de uma daquelas delícias, devidamente acomodado em um tijolo, enquanto o samba come solto e a cerveja esquenta um pouquinho.
Se não tive competência aqui para evidenciar o contraste entre os dois mundos, o da alta gastronomia e o dos quintais do Rio, transcrevo aqui duas receitas, uma de cada livro, para que o leitor tire suas próprias conclusões:
Peixe ensopado com pirão ao leite de coco (receita de Tia Eunice, do livro Batuque na Cozinha)
IngredientesModo de fazer
- 4 kg de corvina-de-linha
- 3 limões
- 1 cabeça de alho
- 2 cebolas
- 2 tomates sem casca e sementes
- 2 molhos de coentro
- 1 molho de salsa
- 500 ml de leite de coco
- sal e pimenta-do-reino
Separe as cabeças dos peixes e corte-os em postas largas. Coloque tudo para temperar com sal, alho socado, pimenta-do-reino e sumo de limão. Deixe descansar por pelo menos meia hora.
Soque o alho e corte os temperos bem miudinhos.
Numa grande panela, de preferência de barro, coloque um pouco de óleo ou de azeite e deixe dourar o alho e a cebola. Adicione sal e pimenta-do-reino. Retire um pouco desse refogado e separe em uma vasilha. Coloque na panela as quatro cabeças de peixe. Em seguida, coloque as postas por cima. Jogue por cima o refogado separado na vasilha, adicione o tomate, o coentro e a salsa. Mexa um pouco para o tempero se espalhar pela panela.
Quando começar a dar fervura, retire as postas com uma escumadeira, vire as cabeças no fundo e recoloque as postas por cima. Deixe cozinhar mais um pouco. Jogue o leite de coco por cima e deixe dar a fervura.
Abaixe o fogo e retire as postas e as cabeças, coloque-as em uma travessa com um pouco de molho por cima. Guarde no forno para não esfriar.
Deixe o restante do molho na panela, adicione um pouco de água e faça ali o pirão, despejando cuidadosamente a farinha de mesa com a mão e mexendo sempre com a colher de pau. O pirão vai ficar com gosto do coco também.
Acompanha arroz branco.
Filé de Peixe Walewska (receita de Sílvio Lancellotti, do Livro da Cozinha Clássica)
Ingredientes para 1 porção: 1 filé de peixe, preferivelmente linguado. Sal. Pimenta-do-reino. 1 xícara de chá de fumê de peixe. 2 postas de lagosta, cerca de 1 cm de espessura cada qual. Algumas lâminas de trufas - ou, em seu lugar, substituição barata, de gordos cogumelos frescos, do tipo shiitake. 1 xícara de molho Mornay.
Modo de fazer: Tempero o peixe com o sal e a pimenta-do-reino. Pocheio por três minutos no fumê fervente. Retiro. escorro. Deposito num prato apropriado e refratário. Cubro com as fatias de lagosta e com as trufas. Banho com o Mornay. Levo ao forno forte, por no máximo um minuto.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Tardia, pero, no mucho
Há quem diga que a justiça que tarda é justiça falha. Via de regra isto é verdade, mas há algumas satisfatórias exceções.
Paulo Maluf e seu porta-voz, Adilson Laranjeira, propagam há anos que "não há condenação contra Paulo Maluf". Nos últimos tempos a frase mudou um pouco, e podemos ouvir "não há condenação criminal contra Paulo Maluf". Réu em conjunto com amigos (nossa legislação dá nome a esse tipo de ação entre amigos, mas tudo bem, deixemos assim) em uma ação civil, foi condenado há algum tempo, em última instância, a devolver um dinheirinho referente à aventura da Paulipetro, em 1980. Isso mesmo, 1980. Já se vão 28 anos.
Curioso é que quando do anúncio do superhipermega campo de Tupy pela Petrobras, seu partido correu aos programas de TV gratuitos bradando que era composto por visionários, ungidos de grande espírito empreendedor, e que já em 1980 investiam na busca por petróleo em solo paulista. Claro que ninguém é perfeito. Esqueceram de comentar que as recentes descobertas são no limite da plataforma continental, enquanto nossos visionários furavam buracos no interior de São Paulo, dando de cara com o aquífero Guarany, criatura já à época sabida e localizada.
Pois bem, Paulo Maluf foi condenado, mas ainda não se fez a justiça, uma vez que não devolveu ao tesouro de São Paulo os valores constantes da causa. E eis que ontem, em meio a um típico pé d'água de verão, ouço no rádio do carro uma chamada da CBN que me faz esquecer o trânsito pesado e sorrir: Paulo Salim Maluf teve a dívida de R$ 700 milhões referente à Paulipetro executada pelos autores da causa, com prazo de 15 dias, a contar de ontem, para pagá-la e multa de 10% sobre o valor em caso de atraso. Não cabe recurso da ordem.
Ainda que tardia, cumpre seu papel a justiça, alcançando o réu ainda em tempo de fazê-lo pagar por seus mal feitos. Até que não falhou tanto, desta vez.
Paulo Maluf e seu porta-voz, Adilson Laranjeira, propagam há anos que "não há condenação contra Paulo Maluf". Nos últimos tempos a frase mudou um pouco, e podemos ouvir "não há condenação criminal contra Paulo Maluf". Réu em conjunto com amigos (nossa legislação dá nome a esse tipo de ação entre amigos, mas tudo bem, deixemos assim) em uma ação civil, foi condenado há algum tempo, em última instância, a devolver um dinheirinho referente à aventura da Paulipetro, em 1980. Isso mesmo, 1980. Já se vão 28 anos.
Curioso é que quando do anúncio do superhipermega campo de Tupy pela Petrobras, seu partido correu aos programas de TV gratuitos bradando que era composto por visionários, ungidos de grande espírito empreendedor, e que já em 1980 investiam na busca por petróleo em solo paulista. Claro que ninguém é perfeito. Esqueceram de comentar que as recentes descobertas são no limite da plataforma continental, enquanto nossos visionários furavam buracos no interior de São Paulo, dando de cara com o aquífero Guarany, criatura já à época sabida e localizada.
Pois bem, Paulo Maluf foi condenado, mas ainda não se fez a justiça, uma vez que não devolveu ao tesouro de São Paulo os valores constantes da causa. E eis que ontem, em meio a um típico pé d'água de verão, ouço no rádio do carro uma chamada da CBN que me faz esquecer o trânsito pesado e sorrir: Paulo Salim Maluf teve a dívida de R$ 700 milhões referente à Paulipetro executada pelos autores da causa, com prazo de 15 dias, a contar de ontem, para pagá-la e multa de 10% sobre o valor em caso de atraso. Não cabe recurso da ordem.
Ainda que tardia, cumpre seu papel a justiça, alcançando o réu ainda em tempo de fazê-lo pagar por seus mal feitos. Até que não falhou tanto, desta vez.
Meio século de feijão
Quando criança, sempre que havia reunião de pais na escola ficávamos de orelha colada à porta da sala de aula, providenciando tempo hábil para contornar qualquer situação de risco causada pela justa reação de nossos pais a injustos comentários da professora a respeito de nosso desempenho ou comportamento em sala de aula.
Lembro que uma vez, sendo eu o espião de plantão, ouvi-a comentar com os pais de dois colegas, irmãos, que havia tempos notava deficiências na aprendizagem e comportamento deles, sinais para ela claros de desnutrição. "Mas como!? Lá em casa não falta feijão!" "Só feijão, meu senhor, não adianta muito".
Assim é a Ilha. Após meio século do domínio de El Comandante, não lhe falta feijão. Todos os seus indicadores em saúde são dos melhores do mundo. Já há muito está entre os melhores olímpicos. O emprego, até pouco tempo, era pleno. Não está muito longe disso hoje, ainda que tenha se saído da plenitude. O abastecimento de bens de consumo essenciais, como alimentos e remédios, não chega a ser abundante, mas também não é calamitoso. Isto numa sociedade que sofre o embargo da maior potência econômica, e de seus fiéis seguidores, há bons 35 ou 40 anos, nem sei mais. Mas que, por outro lado, foi e é amparada pelas injeções de capital e combustíveis, primeiro da velha União Soviética, e recentemente, de nosso vizinho caudilho. O hiato entre estes dois períodos foi massacrante a sua já não exuberante economia, mas vê-se que o fôlego de Chavez surte alguns efeitos na terra do rum.
Mas é na educação onde está o maior problema. Cuba alardeia, e com justa razão, que seus índices de analfabetismo são dos menores do mundo. Mas trata-se, stricto sensu, não de educação e sim adestramento. Alguém sem senso crítico, não é educado. E não se pode ter senso crítico sem o livre acesso ao contraditório.
Cuba até agora deu feijão a seu povo. Espero que com a saída de El Comandante, possa se abrir espaço aos outros deliciosos e tão necessários pratos.
Em tempo, queria citar Fernando Morais, em sua fantástica reportagem "A Ilha", de 1976. Ao perguntar a um garçom em Havana por que só os mortos têm os nomes em monumentos e lugares públicos, ouve a seguinte resposta: "Quem está vivo é passível de erro. Seria muito ruim ter de tirar o nome de alguém da rua."
Lembro que uma vez, sendo eu o espião de plantão, ouvi-a comentar com os pais de dois colegas, irmãos, que havia tempos notava deficiências na aprendizagem e comportamento deles, sinais para ela claros de desnutrição. "Mas como!? Lá em casa não falta feijão!" "Só feijão, meu senhor, não adianta muito".
Assim é a Ilha. Após meio século do domínio de El Comandante, não lhe falta feijão. Todos os seus indicadores em saúde são dos melhores do mundo. Já há muito está entre os melhores olímpicos. O emprego, até pouco tempo, era pleno. Não está muito longe disso hoje, ainda que tenha se saído da plenitude. O abastecimento de bens de consumo essenciais, como alimentos e remédios, não chega a ser abundante, mas também não é calamitoso. Isto numa sociedade que sofre o embargo da maior potência econômica, e de seus fiéis seguidores, há bons 35 ou 40 anos, nem sei mais. Mas que, por outro lado, foi e é amparada pelas injeções de capital e combustíveis, primeiro da velha União Soviética, e recentemente, de nosso vizinho caudilho. O hiato entre estes dois períodos foi massacrante a sua já não exuberante economia, mas vê-se que o fôlego de Chavez surte alguns efeitos na terra do rum.
Mas é na educação onde está o maior problema. Cuba alardeia, e com justa razão, que seus índices de analfabetismo são dos menores do mundo. Mas trata-se, stricto sensu, não de educação e sim adestramento. Alguém sem senso crítico, não é educado. E não se pode ter senso crítico sem o livre acesso ao contraditório.
Cuba até agora deu feijão a seu povo. Espero que com a saída de El Comandante, possa se abrir espaço aos outros deliciosos e tão necessários pratos.
Em tempo, queria citar Fernando Morais, em sua fantástica reportagem "A Ilha", de 1976. Ao perguntar a um garçom em Havana por que só os mortos têm os nomes em monumentos e lugares públicos, ouve a seguinte resposta: "Quem está vivo é passível de erro. Seria muito ruim ter de tirar o nome de alguém da rua."
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Para sempre?
Tenho um amigo que é uma das melhores pessoas que conheço, mas de apetite feral e ingenuidade bestial. Vez por outra acha algo no que acreditar, de bruchas a obra pública feita com lisura, e vem querer nos convencer que isso existe. Para sorte dele, ultimamente têm sido só algo para se divertir, um pouco mais de cultura inútil. Mas já gastou muito dinheiro com lubrificantes milagrosos, módulos de ignição que retiram energia do nada e outras quinquilharias mais.
Pega as informações sabe-se lá de quais sítios da internet, dois ou três parágrafos de texto, e toma-as como demonstrações científicas. No tempo em que eu tomava pau lá no IFUSP, o pessoal dizia que pesquisadores tinham dois ranks, o das citações, em artigos e revistas sérios, científicos ou de divulgação, e as anti-citações, em algumas revistas e sítios de "divulgação científica", como os que esse meu amigo frequenta.
Pois que lá veio ele novamente com a "prova" de que o moto-perpétuo existe. Já perdi a conta das vezes em que ele caiu nesse conto. Mas agora a brincadeira começa a tomar rumos perigosos. Já nos chama de incrédulos. Daí a nos chamar de infiéis e querer nos capar, é um pulo.
Diz que um tal de Thane Heins (google nele para saber mais) inventou uma trapizonga eletromagnética que se move "ad-infinitum", dado um tranco inicial. O autor do milagre jura de pés juntos que não é moto-contínuo. Bom, ele pode chamar do que quiser, mas um troço que se move até o fim dos tempos sem precisar de energia externa só pode ser isso... Interessante notar também que nem ele parece saber muito bem do que se trata sua máquina, visto que não há uma sentencinha matemática sequer em todo o "trabalho" dele.
O que meu amigo (e boa parte da humanidade, infelizmente) ignora, é que uma máquina, seja qual for, ao se mover sofre a ação de forças de atrito, por menores que sejam. Estas forças geram calor, retirando energia do sistema, a uma determinada taxa. Ora, se energia é retirada, energia deve ser reposta ao sistema, de modo a perpetuar o movimento. Mas de onde, se o sistema é isolado? Logo, a geringonça de nosso amigo seria um poço interminável de energia, criando energia que seria dissipada pelo atrito. Senhores, se isto existe, a primeira lei da termodinâmica não existe.
Mas aí alguém pode dizer, espere! A máquina reaproveita de alguma forma a energia retirada pelo efeito do atrito, reintroduzindo-a no sistema. Não amigos, pelo amor de Deus, não! Vejam o enunciado da segunda lei da termodinâmica, segundo lorde Kelvin: "É impossível realizar um processo cujo único efeito seja remover calor de um reservatório térmico e produzir uma quantidade equivalente de trabalho." Ou seja, algo se perderá no processo. Se há perdas, e o sistema é isolado, acabou a conversa. Não entra energia a mais, só sai. Um dia o troço pára...
Existem pelo menos mais umas dez abordagens diferentes para se derrubar a conversa em 2 ou 3 parágrafos, mas a termodinâmica me parece ser a mais simples e definitiva, pois mata de uma paulada só todos os dispositivos do gênero.
Porque as pessoas teimam em acreditar nesse tipo de pataquada, é assunto para quando eu estiver dando uma de psicólogo social, num próximo post.
Pega as informações sabe-se lá de quais sítios da internet, dois ou três parágrafos de texto, e toma-as como demonstrações científicas. No tempo em que eu tomava pau lá no IFUSP, o pessoal dizia que pesquisadores tinham dois ranks, o das citações, em artigos e revistas sérios, científicos ou de divulgação, e as anti-citações, em algumas revistas e sítios de "divulgação científica", como os que esse meu amigo frequenta.
Pois que lá veio ele novamente com a "prova" de que o moto-perpétuo existe. Já perdi a conta das vezes em que ele caiu nesse conto. Mas agora a brincadeira começa a tomar rumos perigosos. Já nos chama de incrédulos. Daí a nos chamar de infiéis e querer nos capar, é um pulo.
Diz que um tal de Thane Heins (google nele para saber mais) inventou uma trapizonga eletromagnética que se move "ad-infinitum", dado um tranco inicial. O autor do milagre jura de pés juntos que não é moto-contínuo. Bom, ele pode chamar do que quiser, mas um troço que se move até o fim dos tempos sem precisar de energia externa só pode ser isso... Interessante notar também que nem ele parece saber muito bem do que se trata sua máquina, visto que não há uma sentencinha matemática sequer em todo o "trabalho" dele.
O que meu amigo (e boa parte da humanidade, infelizmente) ignora, é que uma máquina, seja qual for, ao se mover sofre a ação de forças de atrito, por menores que sejam. Estas forças geram calor, retirando energia do sistema, a uma determinada taxa. Ora, se energia é retirada, energia deve ser reposta ao sistema, de modo a perpetuar o movimento. Mas de onde, se o sistema é isolado? Logo, a geringonça de nosso amigo seria um poço interminável de energia, criando energia que seria dissipada pelo atrito. Senhores, se isto existe, a primeira lei da termodinâmica não existe.
Mas aí alguém pode dizer, espere! A máquina reaproveita de alguma forma a energia retirada pelo efeito do atrito, reintroduzindo-a no sistema. Não amigos, pelo amor de Deus, não! Vejam o enunciado da segunda lei da termodinâmica, segundo lorde Kelvin: "É impossível realizar um processo cujo único efeito seja remover calor de um reservatório térmico e produzir uma quantidade equivalente de trabalho." Ou seja, algo se perderá no processo. Se há perdas, e o sistema é isolado, acabou a conversa. Não entra energia a mais, só sai. Um dia o troço pára...
Existem pelo menos mais umas dez abordagens diferentes para se derrubar a conversa em 2 ou 3 parágrafos, mas a termodinâmica me parece ser a mais simples e definitiva, pois mata de uma paulada só todos os dispositivos do gênero.
Porque as pessoas teimam em acreditar nesse tipo de pataquada, é assunto para quando eu estiver dando uma de psicólogo social, num próximo post.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Montenegro e Schenberg
O bom de se escrever um blog é escrever sobre o que se quer, sem se importar muito com o resultado, até porque não temos ferramentas lá muito precisas para medí-lo.
Isto posto, vou atacar de crítico literário, coisa que sempre quis ser, já que para escritor não dou para o começo. E, enjoado que sou, vou logo de dois de uma vez. Na verdade, não sei mesmo se é resenha com traços de crítica ou o contrário. Decidam vocês, por gentileza.
Entre os últimos livros que li, tenho dois aqui que se destacam por falarem de dois brasileiros e nordestinos, o pernambucano Mário Schenberg e o cearense Casimiro Montenegro Filho.
O primeiro, físico dos maiores, senão o maior que este continente já viu, não ganhou um Nobel por obra do destino, ou da conspiração, não vem ao caso.
O segundo, aviador primeiro do Exército Brasileiro, depois da então recém fundada FAB, foi entre outras coisas, mentor e primeiro aviador do Correio Aéreo Nacional, a exemplo de Saint-Exupéry, e também mentor e fundador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que dispensa quaisquer explicações.
Os livros:
Quanto ao segundo, Fernando Morais faz um livro desses para se ler de uma sentada. Fantástico personagem, narrativa irretocável. Sujeito feliz esse Fernando. Teve a sorte de ter nas mãos a vida de um cabra com causos e casos bonitos de se contar, e feitos invejáveis. Queria contar um ou dois aqui, mas não vou estragar-lhes o prazer, mesmo porque não tenho um átimo da competência de Morais para isso, e seriam dois os desprazeres, é judiação demais, mesmo para quem paga o pato.
Isto posto, vou atacar de crítico literário, coisa que sempre quis ser, já que para escritor não dou para o começo. E, enjoado que sou, vou logo de dois de uma vez. Na verdade, não sei mesmo se é resenha com traços de crítica ou o contrário. Decidam vocês, por gentileza.
Entre os últimos livros que li, tenho dois aqui que se destacam por falarem de dois brasileiros e nordestinos, o pernambucano Mário Schenberg e o cearense Casimiro Montenegro Filho.
O primeiro, físico dos maiores, senão o maior que este continente já viu, não ganhou um Nobel por obra do destino, ou da conspiração, não vem ao caso.
O segundo, aviador primeiro do Exército Brasileiro, depois da então recém fundada FAB, foi entre outras coisas, mentor e primeiro aviador do Correio Aéreo Nacional, a exemplo de Saint-Exupéry, e também mentor e fundador do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que dispensa quaisquer explicações.
Os livros:
- Pensando a Física - Mário Schenberg, 5ª edição, Landy, 2001.
- Montenegro - Fernando Morais, 1ª edição, Planeta, 2006.
Quanto ao segundo, Fernando Morais faz um livro desses para se ler de uma sentada. Fantástico personagem, narrativa irretocável. Sujeito feliz esse Fernando. Teve a sorte de ter nas mãos a vida de um cabra com causos e casos bonitos de se contar, e feitos invejáveis. Queria contar um ou dois aqui, mas não vou estragar-lhes o prazer, mesmo porque não tenho um átimo da competência de Morais para isso, e seriam dois os desprazeres, é judiação demais, mesmo para quem paga o pato.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Sorte
Resolvi inaugurar as postagens com um tema um pouco requentado, coisa de duas ou três semanas atrás, mas que ainda é bastante oportuno.
Lá pelo meio de janeiro foi divulgado pelo Ministério do Trabalho o número de empregos formais gerados em 2007. Esqueçamos o que foi notícia, ou seja, que foi o recorde anual na série histórica, que vem de 1992, e vamos ao número, puro e simples: 1,6 milhão de empregos, com carteira assinada, azeitona no pastel e tudo o mais.
Peguemos agora o número de empregos acumulado de 2003 a 2007. Temos coisa da ordem de 6,5 milhões de empregos, sempre sobre os dados do Ministério do Trabalho, que por sinal, baseiam-se em base sólida e auditável, podendo ser perfeitamente considerados confiáveis. Projete-se agora a coisa para 2010. A essa taxa, chegamos facilmente a
11,4 milhões de empregos no período 2003/2010.
Certo, vamos acreditar que a Águia realmente tomou um balaço no quengo dos mais certeiros, e que a recessão vem mesmo. Ao que parece, ela vem mesmo, mas não com essa bola toda. E só para lembrar, nos últimos 5 anos tivemos 4 em que os anúncios de que a recessão ianque era "agora" era presente.
Voltando a nossa conta, podemos tirar por conta da recessão coisa de 1,4 milhão de empregos? É uma conta até que bem conservadora, já que trata-se de quase 30% do total de empregos a serem gerados até 2010, desconsiderando a situação interna atual, que seguramente é a melhor que vi, desde que larguei as fraldas.
Fechamos então com um número mágico: 10 milhões de empregos, entre 2003 e 2010. Algum dos leitores poderia lembrar de uma das promessas de campanha no segundo turno, em 2002? Pois é, e o diabo do Eleito não deu prazo... E vai cumprir.
Mas com que méritos? Ao pensarmos sobre todas as decisões que deveriam ter sido tomadas, em quaisquer áreas de atuação do governo do Eleito, percebe-se que o único mérito foi o de não fazer nada. Não mexeu, não fedeu. Simplesmente deixou a coisa correr, e vamos ver onde é que dá.
É, o sujeito é um camarada de sorte. Estava na hora certa, no lugar certo.
Lá pelo meio de janeiro foi divulgado pelo Ministério do Trabalho o número de empregos formais gerados em 2007. Esqueçamos o que foi notícia, ou seja, que foi o recorde anual na série histórica, que vem de 1992, e vamos ao número, puro e simples: 1,6 milhão de empregos, com carteira assinada, azeitona no pastel e tudo o mais.
Peguemos agora o número de empregos acumulado de 2003 a 2007. Temos coisa da ordem de 6,5 milhões de empregos, sempre sobre os dados do Ministério do Trabalho, que por sinal, baseiam-se em base sólida e auditável, podendo ser perfeitamente considerados confiáveis. Projete-se agora a coisa para 2010. A essa taxa, chegamos facilmente a
11,4 milhões de empregos no período 2003/2010.
Certo, vamos acreditar que a Águia realmente tomou um balaço no quengo dos mais certeiros, e que a recessão vem mesmo. Ao que parece, ela vem mesmo, mas não com essa bola toda. E só para lembrar, nos últimos 5 anos tivemos 4 em que os anúncios de que a recessão ianque era "agora" era presente.
Voltando a nossa conta, podemos tirar por conta da recessão coisa de 1,4 milhão de empregos? É uma conta até que bem conservadora, já que trata-se de quase 30% do total de empregos a serem gerados até 2010, desconsiderando a situação interna atual, que seguramente é a melhor que vi, desde que larguei as fraldas.
Fechamos então com um número mágico: 10 milhões de empregos, entre 2003 e 2010. Algum dos leitores poderia lembrar de uma das promessas de campanha no segundo turno, em 2002? Pois é, e o diabo do Eleito não deu prazo... E vai cumprir.
Mas com que méritos? Ao pensarmos sobre todas as decisões que deveriam ter sido tomadas, em quaisquer áreas de atuação do governo do Eleito, percebe-se que o único mérito foi o de não fazer nada. Não mexeu, não fedeu. Simplesmente deixou a coisa correr, e vamos ver onde é que dá.
É, o sujeito é um camarada de sorte. Estava na hora certa, no lugar certo.
Regras do Jogo
Parida a criança, é hora de alimentá-la.
Primeiro, o cardápio: o assunto aqui é assunto e ponto. O que me der na telha. Não esperem algo politicamente engajado, mas também não de todo alienado. Vez por outra terei de desopilar o fígado, e elegi este espaço para isso quando necessário. Mais uma vez, azar de vocês.
Segundo, a regularidade: não há regularidade. Pode ser diária, mas também pode ser quinzenal. Quando tiver tempo e vontade, escreverei. Espero que seja com periodicidade apreciável, mas não posso garantir.
Agora, é nos divertirmos. E, se possível, ganhar alguns trocados, não vou mentir.
Primeiro, o cardápio: o assunto aqui é assunto e ponto. O que me der na telha. Não esperem algo politicamente engajado, mas também não de todo alienado. Vez por outra terei de desopilar o fígado, e elegi este espaço para isso quando necessário. Mais uma vez, azar de vocês.
Segundo, a regularidade: não há regularidade. Pode ser diária, mas também pode ser quinzenal. Quando tiver tempo e vontade, escreverei. Espero que seja com periodicidade apreciável, mas não posso garantir.
Agora, é nos divertirmos. E, se possível, ganhar alguns trocados, não vou mentir.
Pagando o pato
Senhoras, senhores,
Como todos devem, ou pelo menos deveriam saber a essa altura do campeonato, não se deve atentar contra a hombridade de alguém. Mas o cretino que escreve estas porcarias tentando rebuscar o estilo é das criaturas mais imbecis que a natureza já pôs na Terra e vez por outra desafia essa lei natural, ainda que com plena consciência de ser pele e osso simplesmente, quase sem recheio. Talvez por isso mesmo é que não tenha apanhado até hoje. Bater em mim é bastante similar a bater em bêbado: se bater, não há vantagem agora, se apanhar, é muito mole.
Pois que eu e Alemão, amigo de tempos em que conseguíamos fazer cem vezes mais bobagens do que fazemos agora, e nos darmos mil vezes melhor, tomávamos uns caldinhos de mocotó e fava regados a Kariri com mel no melhor Pé Sujo de São Paulo, que não por acaso fica no melhor bairro de São Paulo, a Móoca, quando lá pelas tantas ele anuncia: "Estou escrevendo um blog" (Fábrica de Sequelas Visitem! Leva jeito esse menino.).
Conheço a criatura não é de hoje, e sei bem da durabilidade de seus projetos. Só para citar uma passagem, em uma visita a sua casa reparei num canto, largada, uma pilha de jornais que já beirava o metro e meio. "Que diabo é isso?" "Estou montando uma hemeroteca." Eu, que perco o amigo, mas não perco a esculhambação, tasquei de prima: "Isso é um viveiro de barata! Cria vergonha, rapaz!". Foi a deixa para sua dedicada esposa dar fim àquela colônia de insetos. Não fiquei para ouvir os protestos, se os houve.
Voltemos ao boteco. O imbecil aqui, lembrando dos tantos casos, e já com umas canas no cérebro, resolveu bancar o macho imediatamente: "Se durar mais que quinze dias, escrevo um também."
Seria muita pretensão minha acreditar que o morfético continua a escrever só para me lascar, mas o fato é que perdi, e estou pagando a aposta. E, como diz a piada, se ele vai parar ou não, não sei. Mas eu continuo!
E vocês, leitores, azar! Pagam o pato!
Conheço a criatura não é de hoje, e sei bem da durabilidade de seus projetos. Só para citar uma passagem, em uma visita a sua casa reparei num canto, largada, uma pilha de jornais que já beirava o metro e meio. "Que diabo é isso?" "Estou montando uma hemeroteca." Eu, que perco o amigo, mas não perco a esculhambação, tasquei de prima: "Isso é um viveiro de barata! Cria vergonha, rapaz!". Foi a deixa para sua dedicada esposa dar fim àquela colônia de insetos. Não fiquei para ouvir os protestos, se os houve.
Voltemos ao boteco. O imbecil aqui, lembrando dos tantos casos, e já com umas canas no cérebro, resolveu bancar o macho imediatamente: "Se durar mais que quinze dias, escrevo um também."
Seria muita pretensão minha acreditar que o morfético continua a escrever só para me lascar, mas o fato é que perdi, e estou pagando a aposta. E, como diz a piada, se ele vai parar ou não, não sei. Mas eu continuo!
E vocês, leitores, azar! Pagam o pato!
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